Desacelere e aproveite a paisagem
Olá, eu sou a Cris. Mulher mãe, jornalista mãe. De tudo
um pouco e mãe. Miguel, meu filho, veio no mês do meu aniversario de 31 anos,
em 2010, abril, dia 5, pouco antes do meu. Tantas emoções, de celebração
e construção, fé e esperança. Depois de um mês de UTI neonatal, a primeira
mamada. Ao todo foram 50 dias antes de ir para casa.
Bebê de risco de amor incondicional, o trabalho
para manter o brio, a casa, a cabeça e corpo sãos. Por mais de dois anos, a
rotina de toda criança nessa idade e consultas extras, com cardiopediatra,
oftalmo, otorrino, terapeuta ocupacional. Ali pelo segundo mês de vida, percebi
que Miguel reagia pouco aos barulhos, e eram muitos na casa da vovó. Depois de
duas tentativas, na terceira do exame BERA/ PEATE (Potencial
Evocado Auditivo do Tronco Encefálico), o diagnóstico: surdez
bilateral profunda irreversível. Sobre a causa, nos apontaram várias:
prematuridade, medicação ototóxica, risco infeccioso. Bastei.
E agora? O que dá para fazer? Fiquei em choque. Não
havia caso de surdos na família. Busquei ajuda. Miguel foi encaminhado para
prótese, começou também as sessões com fono.
Nas minhas pesquisas descobri o serviço de referência
em implante coclear para surdos pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, uma esperança no sentido de proporcionar
ao meu filho tudo o que fosse necessário para o seu desenvolvimento pessoal e
melhor qualidade de vida. Meu sonho era que ele ouvisse, conseguisse me entender
e também falasse.
Com prognósticos clínico e de reabilitação favoráveis,
Miguel foi implantado em julho de 2012 e, desde então, é assistido por
excelentes profissionais. A fala não veio, mas a indicação da LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais), sim.
O Miguel se transformou: de um temperamento agressivo e
atenção dispersa para uma criança doce interessada e segura. Há muita coisa por
fazer.
Muito por descobrir. Andemos. Aproveitemos o caminho e a
infância dos nossos filhos. Que o amor nos direcione amplifique e apure os nossos
sentidos; nos faça desacelerar para aproveitar a paisagem e nos instigue a
avançar cada vez mais, rumo a uma sociedade mais humana e inclusiva.
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